Terça a tarde. Chovia muito, mas não com trovões e ventos, apenas chovia. Caminhando de volta pra casa, sem pressa nenhuma, era apenas eu, meu guarda-chuva vermelho, e os pingos molhando minhas galochas. Virando a esquina, vejo em frente de casa um guarda-chuva xadrez que eu bem conhecia. Era ele. "O que ele faz aqui? Ele nunca veio, como sabe que moro aqui?" E apareciam mais e mais perguntas. Chegando perto do portão, ele se vira, olha pra mim e dá um dos poucos sorrisos que vi.
- Oi. - ainda com o sorriso raro, mas agora, no canto dos lábios.
- Oi.
- Eu preciso falar com você.
- Entra.
Escolhendo as chaves, percebi que estava nervosa, ele me deixava assim, principalmente quando sentia que seus olhos me percorriam. Tentei esquecer, abri o portão e entramos.
- Você sempre anda na chuva?
- Só quando o tempo está assim.
- Hum.
- Mas e você, como sabe onde eu moro? - tiro as galochas e de meias vou a sala, apontando pra ele me seguir.
- Esses dias atrás, tava passando por aqui quando vi você entrar. - Dando de ombros, se joga no sofá e bate do lado pra eu sentar
- Hum tá... E o que seria de tão importante assim? - Tentando fazer com que ele pensasse que não estou nenhum pouco interessada, sento do seu lado e começo a olhar pro nada.
- Olha... - Passa o braço por meu ombro e se aproxima, deixando poucos centímetros entre nós.- Depois de tudo aquilo que aconteceu, está difícil confiar em alguém, então... eu não posso deixar você sozinha, e, seria melhor passar uns dias aqui.
"Era verdade mesmo tudo o que eu estava presenciando? Como pode se oferecer? Logo ele, que, que fez tudo aquilo pra descobrir quem eu era, me sinto um lixo!"
- Eu prometo que não incomodo, seria como um pedido de desculpas, só quero garantir que ninguém vai aparecer de novo.. tá ?
.......
- Tá ?
- Sim.
Eu não sei o que me deu, nem porque aceitei, mas já estava feito.
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