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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Terraço - Segunda Parte







Ele: Eu chegaria em casa pensando se fizera certo. Ainda dava tempo de tê-lo entregue pra ela. Coloquei as chaves na estante e fui pra cozinha. O dia foi longo e cansativo. Devia ter comido fora, agora teria de cozinhar. Não era um dos meus fortes, mas pegaria as sobras da geladeira e assim poderia ter algo digno. Estaria passando algum jogo interessante na TV, melhor programação.

Ela: Passaria na casa dos meus pais pra ver como estavam, já que faço isso toda semana. Acabaria jantando lá antes de ir pra casa. Quando cheguei em casa notei o quanto estava cansada, largaria a bolsa no sofá e colocaria a roupa mais confortável que tinha. Quando voltei a mini sala, lembrei dele. Apesar de ser bonito, acharia-o curioso pra querer saber o que eu escrevia. Peguei minha bolsa e faltava algo. O caderno. O desespero veio na hora, meu nome e telefone estariam escritos e até agora ninguém ligara. Será que alguém o achou? Será que ele o pegou?

Ele: Depois do jantar pegaria o caderno que ainda estava no bolso do meu blazer. Abri a primeira página, nome e telefone. Izabele era o nome dela. Logo adicionaria aos meus contatos para avisá-la do caderno, mas minha curiosidade foi maior, então fui logo na última página. A que ela escrevia. Me atreveria a ler apenas a última frase: "Talvez as pessoas não sejam tão complicadas ou erradas demais para se ter confiança. Porque estar com alguém seja tão bom a ponto de não querer mais ficar sozinho." Escrevia bem, falava sobre ela. No primeiro momento ficaria atraído, parecia ser inteligente e era bonita de uma forma diferente, seus olhos me deixaram intrigado, não se via ultimamente.

Ela: Eu realmente ficaria brava. Como alguém acha algo que não é seu e não procura devolvê-lo no mesmo instante? Ficaria com medo de alguém ler meus textos. Meu celular tocou.

"Oi, boa noite.. Izabele?"
"Sim, quem fala?"
"Sou Leonardo, nos vimos no fim da tarde no café. Você esqueceu seu caderno na mesa e guardei-o comigo."
"Ah, que bom, achei que ninguém havia-o achado." 
"... Fiquei sem tempo, o dia foi corrido e acabei lembrando agora." - menti.
"Ah sim... Obrigada por tê-lo guardado, pode me entregar amanhã?"
"Posso sim, mas estarei longe do café, moro no home edifice, tem uma livraria/café do lado, pode ser no fim da tarde?"
"Pode, sei onde é, trabalho perto"
"Me desculpe pela demora, é que, me distraí."
"Sei bem como é."
"As 17h da tarde?" - Eu estava mesmo nervoso?
"As 17h da tarde estarei lá."

Ela: Parecia que eu iria encontrar alguém que a muito tinha esperado. Meu rosto se reviraria numa careta. Não gostaria dessa expectativa, dessa ansiedade. Mas meu coração já estava sentindo.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O terraço - Primeira Parte.


Ela: Eu estaria em uma cafeteria num fim de tarde,  o que sempre resultaria em lotação pelos dias no fim do outono. Estaria em uma mesa sozinha, tomando um cappuccino e tentando escrever mais um texto perdido. Esqueceria das horas mais uma vez.  

Ele: Por mais que visse que não haviam mesas disponíveis, eu relutaria em entrar. Iria até o balcão e pediria meu café, o atendente explicaria a falta de mesas, e então eu olharia pra trás e: "Ok, então eu divido a mesa com alguém". Não haveria lugares pra dividir, exceto a mesa próxima a janela, usada por uma moça escrevendo em um caderno com o cabelo tapando os olhos.  Me aproximaria e pediria licença para dividir a mesa.

Ela: Eu estaria tão afundo na escrita que sem levantar a cabeça disse "Sim, pode". Ele não estranharia, já que em lugares lotados assim, é normal. 

Ele: Eu ficaria aflito por não ter ganho atenção, e ela parecia estar tentando terminar a escrita pra assim poder cumprimentar quem estaria sentado a frente dela. 

Ela: Logo o café chegou e assim levantei a cabeça. O que veria a frente seria uma surpresa: não era uma senhora bem arrumada e simpática como de costume. Era um homem alto, cabelos castanhos, com expressão forte e barba por fazer, estava arrumado, mas apenas com celular e chaves de carro. 

Ele: Por uma estranha coincidência, não só eu estava assustado, mas ela também. Quando levantou os olhos, percebi o quanto era mais nova do que achei quando a vi do balcão. Suas roupas mostravam alguém séria, mas seu rosto era doce e seus olhos, grandes, cílios imensos, uma combinação um tanto bonita. Sua expressão denunciava que não me esperava sentar ali.

Ela: Ele sorriria, então eu lembraria de fazer uma cara mais gentil e dizer "Oi".

"Estou atrapalhando sua escrita?"
"Não, de forma alguma."
"O que escreve?"
"Pensamentos."
"É seu trabalho? Escrever pensamentos?"
"Não,  eu faço arquitetura e estagio, é só... Um passatempo."

Ele: Ela diria aquilo com um sorriso no canto dos lábios, aquilo lhe dava satisfação, e eu gostara do modo em que ela intercalava coisas tão diferentes.

"E você, trabalha com o que?"
"Acabei de me formar em engenharia civil, trabalho em uma construtora"
"Hum sim."

Ela: Ele me avaliara com os olhos, enquanto levava a bebida na boca. Ainda estava pensando no caderno, queria finalizá-lo, mas a curiosidade dele parecia não acabar tão cedo.

Ele: Ela estava acabando de tomar o que pedira e então percebi que o tempo passara rápido demais pra matar qualquer curiosidade que surgira ali. Seus olhos pareciam não prestar atenção a conversa que acabamos de ter e de alguma forma, não queria que as coisas terminassem naquela mesa.

Ela: Ele me desconsertava, e isso não me mantinha em uma zona de conforto. Coloquei minha bolsa em meu colo, num gesto sutil de dizer que estava de saída.

"Foi bom conhecê-la."
"Igualmente."
"Quem sabe não nos esbarramos de novo."

Ele: Ela se levantou e saiu, mas não sem antes sorrir graciosamente ao meu comentário que devo admitir, um pouco perseguidor. Então vi o caderno em cima da mesa, olhei pra trás e ela ainda estava passando entre as pessoas dali, num ato de loucura, peguei o caderno e guardei-o comigo, esperei vê-la passando pela janela da cafeteria em direção ao carro, assim o abri. Primeira página: nome e telefone.