quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Biblioteca - Parte 2


   Por que a fuga mais esperta de todos é ficar olhando pra sua bebida ao invés de tomá-la? Foi assim que ela passou a manhã toda no trabalho. Ela não poderia simplesmente sumir, não. Mas e se houvesse más intenções? E se tudo não passasse de uma brincadeira? Não saberia se não tentasse. Louca. Assim que sua intuição a chamava. Nada ganha de sua curiosidade, nem mesmo o medo.
   Chegando o entardecer, sua pele já sentia calafrios e seu medo voltara a aparecer, e logo que pisou na entrada do parque, olhou disfarçadamente a procura de alguém em especial. "Oras, como vou saber quem é? Nada de pistas nem fotos ou algum desenho". Para sua sorte, a biblioteca estava movimentada, para seu azar, haviam muitos estudantes sentados, a maioria sozinhos. Alguns olhares para ela, mas nada que comprovasse algo.
   Sentou em uma das mesas próxima a janela, jogou sua bolsa e sua pasta de desenhos em cima da mesa, pegou o livro da lista que já estava com ela e começou a ler. Logo se perdeu em meio as páginas, a verdade era que os livros eram seus fracos, sua mente viajou, até que uma mãozinha a cutucou. Era um menino que parecia ter uns 4 anos, loiro com franja e um papel dobrado na mão.
          - Moça, pra você.
          - Oi? Quem te mandou mocinho?
          - Ele pediu pra não dizer, e eu não quebro promessas.
          - Ok então, não vou deixar quebrar, mas é só isso?
          - Ah não. - Pegou com suas mãozinhas pequenas o rosto de Clara e lhe deu um beijo apertado na bochecha, um gesto que a fez sorrir.
          - Foi ele que pediu também?
          - Não, esse foi eu que quis dar.

   Saiu correndo como se não tivesse feito nada demais. Clara o acompanhou com os olhos, mas sem resultado. O menino com cara de anjo correu pro colo de sua mãe que estava na sessão de revistas ao longe. Seus olhos correram por entre as estantes, e foi aí que viu algo. Alguém a olhando atrás do balcão. Um rosto familiar olhando fixamente pra ela, com um sorriso no canto da boca. Era alto e tinha o cabelo levemente bagunçado em um topete, sua pele era clara, não mais que a sua com certeza, e seu olhar marcante. Não conseguiu lembrar de onde tinha o visto. Por longos segundos se entreolharam. Foi aí que lembrou do papel, pegou e o abriu rapidamente.

   "Não sabia se seria curiosa o bastante, foi bom ter te visto de novo aqui. Espero muito conhecê-la. Venha amanhã ao entardecer e prometo não ficar apenas em papéis. Com apreço. Felipe"

Quando olhou novamente para o balcão, não havia ninguém. Apenas a lembrança de um sorriso vago.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Biblioteca - Parte 1


   Tudo estava como de rotina. O dia fresco ao entardecer, com uma leve brisa gelada. E como qualquer outro, ela estava indo à biblioteca. Onde seus pensamentos mais ruins se espalhavam como poeira entre os livros, e só restava a vontade de se perder dentre tantas histórias melhores que a dela.
   A biblioteca ficava no meio de um parque. Diferente de outras, aquela havia janelas em todos os lados, e a vista eram as árvores e ramos subindo em cada lugar que conseguiam se enroscar. Realmente, não existia melhor lugar pra ficar. Poderia contar, já lera metade dos livros ali, mesmo que sempre chegassem livros novos.
   Foi até a prateleira mais antiga, como de costume, e, em sua sequência de memória, faltavam três para serem lidos. Foi arrastando os dedos em capas velhas e contando... 1..2..3..4. Eram quatro, e o  n°4  era um caderno de desenho. Seria impossível não ter notado que haviam quatro antes. Não se encaixava na sessão por ter uma capa nova. Automaticamente puxou esse. Sua capa era de um marrom de couro, folhas grossas e levemente amareladas, com um elástico prendendo as folhas. Primeira folha:

   "Serei louco em querer ver cada traço de cor dos seus olhos? Assim, de perto, do modo que a proximidade me permita sentir teu perfume. Se permitir, esqueça o livro dentre todos os velhos e venha todos os dias ao entardecer."

   Segunda folha: Um desenho. Se fosse qualquer outro desenho, ela simplesmente ficaria encantada com um possível romance gostoso de se ler. Mas não. Era um desenho dela, e mais nada. Todas as outras folhas em branco. Claro que pode identificar os cabelos desenhados até a cintura, um arco com um laço na cabeça e seu escapulário, com as duas partes pra frente. Será que alguém tem um igual a esse? Foi o primeiro pensamento, pensamento bobo de alguém assustado que quer negar o que acabou de ver. Seus traços do rosto estavam perfeitamente desenhados entre rabiscos na folha.
   Fechou o caderno com as mãos tremendo e o colocou no mesmo lugar. Sem olhar pros lados para não chamar atenção, andou (ou tentou) andar o mais normal possível até a saída. Uma onda de medo e curiosidade invadiu sua mente que a deixou cambaleante quando se afastou do parque. Seus dedos procuraram rapidamente os fones de ouvido dentro da bolsa, e andou pra longe dali. Sem pensar em nada.

segunda-feira, 15 de julho de 2013


Não gostei de não matar minha saudade de uma só vez. Não gostei do gostinho que "quero mais". Não gostei nem um pouco de ter sussurrado em teu ouvido "Que saudade". Não. Não devemos nos ver, não devemos nos falar, ficar de mimimi. Não devemos trocar provocações de ironia. Não devemos nos tocar, muito menos descansar o olhar em cima do outro. Porque só esse simples fato, pequeno e minúsculo fato, a gente esquece tudo que o que não podia. A gente perde a razão e erra outra vez. Esquece o certo, o arrependimento, a consciência, a razão. Só lembra do cheiro. Ah o cheiro, o malfeitor que faz todas as coisas ruins sumirem feito fumaça, que embriaga feito a pior das bebidas. Só a gente sabe o quão mal/bem isso faz.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Êh laiá.


Pra ser sincera, assim, na lata, as vezes não é de amor que a gente precisa. É de chamego, carinho, presença, enrosco. É esquecer do mundo lá fora e ficar ali dentro, por algum tempo, com aquele alguém que traz carência, saudade. É coisa simples, necessidade boba, mas que te faz ficar pensando dias. Como é que é o nome disso? Não sei... Acho que lembro. Paixão.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Quando vê, quando vi.



Aí você vê que as coisas caminham exatamente no seu ritmo. E vai vendo que tudo que quis vai dando certo aos poucos, que a preocupação foi em vão. Quando percebe que voltou para o caminho certo, depois de procurar tantos, fica até difícil esconder a felicidade e o sorriso olhando pro nada. Quando você acorda e se sente tranquilo de manhã, com a cabeça em outro mundo. Quando volta apreciar o vento e quando já não tem recaídas pro passado machucado e cheio de ilusões. Quando vê que não existe indecisão, a não ser pelo doce ou salgado no fim de tarde. Você vê que está completo, e que a paciência que Deus lhe deu não foi um pequeno defeito, mas uma qualidade de sábios. E foi assim que eu vi.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Há quem diga.


Há quem diga que temos medo de encontrar o que é bom pra gente. E esses mesmos dizem, que o frio na barriga se sente quando encontramos. Somos várias vezes forçados a mudar de caminho, seja pela vontade do novo, ou da necessidade de esquecer o velho. Temos um emaranhado de dúvidas, de medos, e creio que duas vezes mais de esperanças. Como quando olho pra luz do sol, não vejo nada, mas continuo andando sabendo que estou fazendo certo, o bom pra mim.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Calmaria.


E foi aí que sonhei com um campo. Sim, um campo rodeado por floresta e cheio de flores. Alguns ramos iam até a cabeça, com flores pequenas e brancas ao topo. Outras eram girassóis que se misturavam com flores vermelhas, rosas eu acho. Andava com certa leveza, e extasiada pelo cheiro que vinha das flores, quase me esquecendo que havia uma mulher alta, elegante e esguia andando comigo. Sua voz era marcante, de uma mulher de poder, e explicava com toda delicadeza sobre seu campo de flores. Eu não me lembrava da absolutamente nada. Mente vazia, apenas queria deixar registrado esse momento, apenas queria estar ali. E me deixar preencher da calma e do perfume.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Quando.


E quando conhece alguém diferente.

Alguém que te prende o olhar. Alguém que tem os seus gostos. Onde o sorriso fica mesmo depois da boca ter se fechado. Onde te deixa confusa quando fala nas entrelinhas. Você vê a calmaria no ar. A simplicidade.
Mas e quando os passos estão diferentes, e os caminhos só passam perto um do outro? Agarra isso como lembrança boa, não deixa nada passar. Deixa no ar o cheiro daquele mistério gostoso. Mas que não fique apenas com a saudade. Mata ela, deixa aquela conversa se repetir e sorriso ficar no olhar outra vez. Afinal, coisas boas não fazem mal a alma.